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Entra ano e sai ano, é sempre a mesma coisa: basta o tempo ficar um pouco mais frio para a gripe começar a dar as caras. A doença é sazonal e está entre as viroses mais frequentes do mundo. Para quem tem a saúde em dia, pode significar só alguns dias de febre e dor no corpo, mas para crianças, idosos, gestantes e pessoas com baixa imunidade, pode ser letal. Para uma doença com prevenção fácil e vacina, os números de morte são preocupantes: 650 mil pessoas por ano, no mundo todo.
A gripe é uma infecção causada pelo vírus Influenza, que pode ser de três tipos: Influenza A, B ou C. Os vírus do tipo A recebem nomes como A(H1N1), A(H3N2) e A(H7N9), sendo que os dois primeiros são os mais comuns atualmente. Eles também infectam animais e estão sempre se modificando um pouquinho – o suficiente para enganar os anticorpos. Quando eles se misturam com os vírus de humanos, origina-se um novo tipo. Foi o que possibilitou a pandemia de “gripe suína”, causada pelo vírus A(H1N1).
Já os vírus tipo B se hospedam apenas em humanos e são classificados como de linhagem Victoria e linhagem Yamagata. Ele também é altamente transmissível, mas está mais relacionado a epidemias (transmissão em vários estados e alguns países) do que pandemias (transmissão pelo mundo inteiro). O vírus influenza C causa apenas infecções respiratórias brandas, não possui impacto na saúde pública e não está relacionado com epidemias.
Fatores de risco e complicações
- Crianças menores de 5 anos;
- Idosos acima dos 65 anos;
- Gestantes;
- Pessoas com imunidade comprometida;
- Pessoas com doenças crônicas (asma, diabetes e as que afetam o coração ou rins);
- Obesos com Índice de Massa Corpórea (IMC) 40 ou maior.
Enquanto os sintomas da gripe dura entre cinco e dez dias nas pessoas saudáveis, as pessoas que se enquadram nos fatores acima, consideradas “grupo de risco”, podem ter complicações da doença. Entre elas:
- Pneumonia bacteriana: é a complicação mais frequente e também a principal causa de morte em decorrência da gripe, pois ela facilita a infecção pelo pneumococo;
- Pneumonia viral: causada pelo próprio vírus Influenza, mas é mais raro;
- Acometimento dos músculos (miosite) ou do sistema nervoso (encefalite ou polirradiculoneurite);
- Síndrome de Reye: causa confusão mental, inchaço no cérebro e danos ao fígado, aparece principalmente quando o tratamento é feito com aspirina;
Sintomas e Transmissão
Cof-Cof… Aaaaatchim… Lá se vão milhares de gotículas de saliva no ar durante uma simples tosse ou espirro. Com elas seguem também o vírus da gripe (Influenza e seus diversos tipos). Dessa forma eles “viajam” por aí, se “acomodam” nas superfícies de objetos e passam de uma pessoa para outra quando atingem as mucosas da boca, nariz e olhos.
Depois de instalar-se no sistema respiratório, o vírus começa a se reproduzir e a pessoa infectada demora entre 3 e 4 dias para manifestar os sintomas da gripe provocados pela multiplicação dos vírus e pela resposta inflamatória que induzem. Entre os sintomas estão:
- Febre acima de 38ºC.
- Músculos doloridos, especialmente nas costas, braços e pernas.
- Calafrios e suores.
- Dor de cabeça.
- Tosse seca e persistente.
- Fadiga e fraqueza.
- Coriza.
- Dor de garganta.
O período de transmissão da gripe começa 24 horas antes dos sintomas e dura de cinco a dez dias após o seu surgimento. Em crianças e pessoas com imunidade comprometida esse período dura até mais de dez dias.
Prevenção e vacina
Para se prevenir, é bom seguir as recomendações de sempre: cobrir as mãos para tossir ou espirrar – e lavá-las em seguida! Usar lenços descartáveis ao assoar o nariz, evitar o compartilhamento de objetos de uso pessoal, como talheres e copos, evitar lugares com grandes aglomerações e manter os locais bem ventilados, mas isso pode ser difícil de fazer em épocas típicas de gripe: inverno e períodos de temperaturas baixas. No Brasil, costuma ser entre abril e outubro.
Por isso a prevenção com as vacinas é tão importante! Até porque, como o Influenza é um vírus extremamente mutável, todo ano ele se modifica um pouquinho e costuma aparecer novamente. Atualmente, existem dois tipos de vacinas antigripe.
- A TRIVALENTE previne contra dois tipos de Influenza A (H1N1 e H3N2) e um tipo de Influenza B; Pode ser encontrada na rede pública de saúde para grupos prioritários (crianças até 6 anos, gestantes, idosos e pessoas com doenças crônicas) ou na rede privada sem restrição de idade;
- A QUADRIVALENTE previne contra o A-H1N1 e A-H3N2 e também contra dois tipos da Influenza B (Victoria e Yamagata), que dependem do vírus circulante no ano anterior; Encontrada em clínicas particulares sem restrições de idade.
A vacina pode ser tomada a partir dos primeiros 6 meses de vida, no seguinte esquema de doses:
- Entre 6 meses e 9 anos: duas doses na primeira vez em que forem vacinadas (primovacinação), com intervalo de um mês e revacinação anual.
- Para crianças maiores de 9 anos, adolescentes, adultos e idosos: dose única anual.
Gripe x Resfriado x Coronavírus
Você deve ter notado que a gripe é transmitida da mesma forma que outras doenças respiratórias, como resfriados e o coronavírus. A transmissão deste último foi recentemente considerado uma pandemia pela Organização Mundial da Saúde, e vêm causando pânico na população de todo o planeta. Para evitar o desespero, é necessário conhecer bem os sintomas e ficar atento. Veja a tabela abaixo e saiba diferenciar as doenças:
SINTOMA | RESFRIADO | GRIPE | COVID-19 |
Vírus causador | rinovírus, parainfluenza e vírus sincicial respiratório (VSR) | Influenza A, B ou C | SARs-Cov-2 |
Febre | Raro e leve | Comum e alta | Comum e alta |
Tosse | Às vezes, suave | Comum tosse seca | Comum tosse seca |
Fadiga | Às vezes | Comum | Comum |
Dificuldade de respirar | Não | Às vezes | Às vezes |
Dor de cabeça | Raro | Comum | Menos comum |
Dor no corpo | Às vezes, suave | Comum, intensa | Menos comum |
Dor de garganta | Às vezes | Comum | Menos comum |
Calafrios | Raro | Comum | Menos comum |
Coriza | Comum | Comum | Às vezes |
Espirro | Comum | Às vezes | Às vezes |
Complicações comuns | Nenhuma, costuma passar em três dias | Pneumonia bacteriana | Insuficiência respiratória e pneumonia viral |
Vacina disponível | Não necessário | Sim, duas | Não |
De forma geral, podemos ver que enquanto o resfriado é mais leve e costuma atingir apenas as áreas do nariz e da garganta, a gripe e o coronavírus podem ter consequências letais pelo risco que apresentam de chegarem aos pulmões.
A principal forma de diferenciar a gripe do covid-19, além da observação dos sintomas, tem sido um exame que detecta o agente infeccioso pela sua carga genética, a partir de amostras das vias aéreas ou de catarro. Ajuda no diagnóstico também saber se a pessoa com sintomas visitou recentemente uma área de transmissão intensa cerca de 15 dias antes dos sintomas surgirem.
Outra grande diferença que justifica a definição do coronavírus como pandemia é sua alta capacidade de transmissão e letalidade. Enquanto a gripe tem um R0 (número básico de reprodução) estimado de 1,2 – ou seja, cada pessoa pode passar a doença para até 1,2 outras pessoas, em média – o covid-19 tem R0 estimado, até o momento, entre 2,2 e 4, ou seja, cada infectado pelo coronavírus contagia entre duas a três pessoas.
Ele também é mais letal. A gripe mata um paciente infectado a cada mil casos, ou seja, tem taxa de mortalidade de 0,1%. A mortalidade do coronavírus ainda não é confiável, pois não se sabe o número certo de infectados e muitos deles não apresentam sintomas, mas a estimativa atual é que a taxa de mortalidade do covid-19 seja de 2%, ou seja, 20 vezes mais que os vírus da gripe que circulam atualmente.
É importante lembrar que as informações sobre o novo coronavírus são baseadas no momento atual e o vírus vem circulando há apenas dois meses, ou seja, ainda se conhece pouco sobre o problema e novas informações podem ser descobertas.
Fontes: SBIm, Drauzio Varella, Ministério da saúde, Época, Superinteressante e BBC Brasil.