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A hepatite viral é uma doença infecciosa que atinge o fígado e pode ser causada por diferentes vírus, que possuem formas de transmissão e causam alterações leves, moderadas ou graves. As consequências da doença podem ser uma série de sintomas similares à virose ou podem evoluir para uma hepatite crônica ou fulminante, câncer no fígado ou cirrose.
Segundo os dados mais recentes do Ministério da Saúde, divulgados no Boletim Epidemiológico de Hepatites Virais de julho de 2020, as hepatites mais comuns no Brasil são causadas pelos vírus C, B e A, nesta ordem. A incidência do vírus D existe, mas é pequena e predominante apenas na região Norte do país.
Segundo o documento, mais de 600 mil casos de hepatites foram diagnosticados no Brasil entre 1999 e 2019. Nestes 20 anos, a hepatite C responde por 37,6% dos casos, a hepatite B corresponde a 36,8% dos infectados e a hepatite A representa 25% dos diagnósticos. A região Sudeste concentra a maior parte dos casos de hepatite B e C, enquanto o Nordeste concentra 30% dos casos de hepatite A e a região Norte acumula 75% dos cerca de 4 mil casos de hepatite D.
As mortes associadas às variantes da doença chegaram a 75 mil neste período, sendo a hepatite C responsável por 76% dos óbitos e a hepatite B por 21%. Apesar do número parecido de casos diagnosticados entre as hepatites B e C, as mortes pelo vírus VHB são menores devido à existência de vacina contra esta variante. O vírus VHA também possui imunizante, o que explica a queda de 93% na incidência de Hepatite A em 10 anos, após a vacina ter entrado oficialmente no Plano Nacional de Imunização (PNI), em 2009.
A seguir, apresentamos em detalhes as hepatites mais comuns no Brasil, seus sintomas, tratamentos e vacinas:
Hepatite A
Causada pelo vírus VHA, é transmitida por via oral-fecal, entre pessoas ou através do consumo de alimentos (especialmente os frutos do mar, recheios cremosos de doces e alguns vegetais) ou da água contaminada. Por isso, sua incidência é maior em locais com saneamento básico precário ou inexistente. A incidência de hepatite A transmitida pelo contato sexual é rara, mas existe.
O VHA pode sobreviver por até quatro horas na pele das mãos e dos dedos. É também um vírus extremamente resistente às mudanças ambientais, o que facilita sua disseminação, e chega a resistir durante anos a temperaturas de até 20ºC negativos.
Como as outras hepatites, os sintomas são silenciosos ou similares ao de uma virose, mas caso a doença evolua, pode virar uma hepatite fulminante, que leva à necrose maciça e morte das células hepáticas nas primeiras seis a oito semanas da infecção.
Hepatite B
É uma Infecção Sexualmente Transmissível (IST) transmitida pelo vírus VHB, que tem predileção por infectar os hepatócitos, as células do fígado. Essas células podem ser agredidas pelo vírus diretamente ou pelas células do sistema de defesa que, empenhadas em combater a infecção, acabam causando um processo inflamatório crônico.
O vírus VHB pode sobreviver no ambiente externo por vários dias. Uma pessoa infectada por ele pode desenvolver hepatite aguda, hepatite crônica (ou ambas) e hepatite fulminante, e depois de alguns anos, pode evoluir para uma cirrose ou câncer de fígado.
O vírus VHB está presente no sangue, na saliva, no sêmen e nas secreções vaginais da pessoa infectada. Por isso, pode ser transmitido pelo sexo, transfusões de sangue, da mãe para o bebê na gravidez ou parto, ou através de agulhas, seringas e instrumentos de manicure, pedicure e colocação de piercing infectados.
O Ministério da Saúde estima que cerca de 0,52% da população viva com infecção crônica pelo HBV, o que corresponde a aproximadamente 1,1 milhão de pessoas.
Hepatite C
Causada pelo vírus VHC, a transmissão é muito parecida com a hepatite B: via contato sexual, da mãe para o bebê ou com objetos cortantes e perfurantes infectados. A hepatite C é uma das hepatites virais mais preocupantes, pois a tendência é os pacientes desenvolverem uma forma crônica da doença que leva a lesões graves no fígado.
A evolução da enfermidade costuma ser lenta e o diagnóstico, tardio, e ao contrário das outras hepatites aqui citadas, não possui vacina. Em compensação, é uma das poucas doenças crônicas que podem ser curadas, com índices de mais de 90% de sucesso. Quando não é possível, o tratamento busca conter a progressão da doença e evitar as complicações.
A inserção dos antivirais de ação direta (DAA) para o tratamento da hepatite C no Sistema Único de Saúde (SUS), em 2015, e a remodelação na aquisição desses medicamentos, em 2019, permitiu a universalização do acesso aos tratamentos na rede pública. Essas ações tornaram-se marcos históricos rumo à eliminação da hepatite C no Brasil.
Prevenção
- Evite comer frutos do mar crus ou mal cozidos;
- Não coma ou beba em lugares onde você desconhece a procedência ou a preparação;
- Não compartilhe agulhas e seringas;
- Exija o uso de materiais esterilizados e descartáveis em estúdios de tatuagem e colocação de piercings, manicures e pedicures;
- Só faça sexo com o uso de preservativo;
- Evite o consumo de bebidas alcoólicas, porque o consumo de álcool aumenta o risco de desenvolver as complicações da doença;
- Tome as vacinas para as hepatites A e B;
Vacina
Como mostram os dados citados no começo deste texto, é visível que as hepatites A e B têm menor índice de mortalidade. Pode-se dizer que elas matam menos pois são preveníveis pela vacina.
A vacina contra Hepatite B deve ser tomada em 4 doses: ao nascer, em formulação isolada, e aos 2 e 6 meses de vida, como parte da vacina hexavalente acelular. Aos 4 meses é recomendada a vacina penta acelular.
Adultos que não se vacinaram seguem um esquema de três doses, com intervalo de um ou dois meses entre primeira e a segunda doses e de seis meses entre a primeira e a terceira (0-1 a 2 – 6 meses). Portadores de HIV e imunodeprimidos seguem um esquema especial, com doses reforçadas.
No caso da vacina para Hepatite A, recomenda-se a aplicação rotineira aos 12 e 18 meses de idade. Para adolescentes e adultos que não se vacinaram na infância, as doses devem ser aplicadas com 6 meses de diferença entre elas (esquema 0 – 6 meses).
Outra alternativa para os não vacinados na infância é a vacina combinada contra Hepatite A+B em três doses, no esquema 0-1-6 meses. Ainda que não exista vacina para hepatite C, os portadores do vírus devem receber as vacinas contra hepatites A e B, a vacina contra gripe todos os anos e a vacina contra pneumonia.
Todas as vacinas são recomendadas pelas sociedades brasileiras de Pediatria (SBP) e de Imunizações (SBIm) e estão disponíveis na Imunocamp!
Fontes: Boletim Epidemiológico de Hepatites Viriais 2020 (http://www.aids.gov.br/pt-br/pub/2020/boletim-epidemiologico-hepatites-virais-2020) – Ministério da Saúde, Portal SBIm Família e Portal Dráuzio Varella.